
CÁPSULA ENDOSCÓPICA
O que é?
A enteroscopia por cápsula ou videocápsula é um método de diagnóstico que consiste na utilização de uma pequena cápsula com uma câmara incorporada que vai captando imagens do tubo digestivo desde que é deglutida até ser expelida nas fezes. À medida que a cápsula progride ao longo do tubo digestivo, a câmara vai tirando centenas de fotografias que são transmitidas para um pequeno gravador de bolso que o doente traz à cintura. A videocápsula permite visualizar o intestino delgado, localizado entre o estômago e o cólon, que constitui um segmento do tubo digestivo dificilmente acessível pelos métodos endoscópicos convencionais.
Actualmente, há também cápsulas direccionadas para o cólon e cápsulas que permitem obter imagens de todo o tubo digestivo (panendoscopia).
O que se passa durante a realização de uma cápsula?
O procedimento inicia-se em meio hospitalar, com especificidades que variam de acordo com o dispositivo utilizado. Será colocado à cintura um cinto próprio com ligação a um gravador, que permitirá a captação de imagens obtidas pela cápsula.
Ainda sob supervisão do Médico, quando o gravador está operacional, o doente deglute a cápsula com um copo de água. A videocápsula é pouco maior que uma comprimido tradicional, sendo facilmente deglutida. Depois de passar a garganta, o movimento da cápsula ao longo do tubo digestivo não é percetível. O doente pode sair do hospital, conduzir o seu automóvel e, dependendo da profissão, pode regressar ao trabalho, devendo evitar exercício físico ou qualquer atividade que interfira com o gravador.
Para a enteroscopia por cápsula tradicional, com o objectivo de visualizar o intestino delgado, duas horas após deglutir a cápsula o doente pode beber líquidos límpidos, e após 4 horas poderá tomar um lanche ligeiro, uma vez que, nessa altura, a cápsula já terá progredido o suficiente para que os alimentos não interfiram com a captação das imagens. A enteroscopia por cápsula termina cerca de 8 a 10 horas após a deglutição ou mais cedo se o doente detetar a cápsula nas fezes. A videocápsula é desperdiçada juntamente com as fezes, não sendo necessária a sua recolha. No final do exame, o cinto e o gravador são retirados e entregues ao Médico.
A cápsula pode ser expulsa poucas horas após a sua deglutição ou após vários dias, dependendo da motilidade do tubo digestivo de cada doente. Se a cápsula não for detetada nas fezes até 2 semanas após a sua deglutição, o doente deverá procurar o seu Médico, e uma radiografia abdominal permitirá constatar se a cápsula ainda está no tubo digestivo.
Note bem: Não deverá realizar ressonâncias magnéticas enquanto não se assegurar que a cápsula foi expulsa!
Que preparação é necessária para este exame?
Deve ter em consideração os seguintes pontos:
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O protocolo de preparação varia em diferentes centros; nalguns casos poderá ser solicitada uma dieta livre de resíduos enquanto que outros centros recomendam a realização de preparação intestinal com 2 litros de uma solução de polietilenoglicol cerca de 16 horas antes do início do exame. No caso de uma panendoscopia por cápsula ou colonoscopia por cápsula o protocolo de preparação poderá ser mais exigente, mas será informado do mesmo previamente à realização do exame.
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Alterar o horário da toma de alguns medicamentos, 2 horas antes ou depois de deglutir a cápsula, para minimizar as interferências com o exame.
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Planear o tipo de trabalho no dia da videocápsula, uma vez que o exercício físico ou as atividades profissionais muito ativas deverão ser evitadas.
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Coordenação com a equipa de Cardiologia nos doentes portadores de cardiodesfibrilhadores implantáveis (CDI).
Quais os motivos principais para realizar este exame?
A enteroscopia por videocápsula está recomendada nas seguintes situações:
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Hemorragia Gastrointestinal – identificação da causa da hemorragia gastrointestinal quando a endoscopia digestiva alta e a colonoscopia foram inconclusivas.
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Diagnóstico e Classificação da Doença de Crohn – visualização de áreas de mucosa inflamada no intestino delgado
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Diagnóstico de Tumores do Intestino Delgado
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Diagnóstico e Monitorização da Doença Celíaca
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Rastreio de Pólipos do Intestino Delgado – em doentes com síndromes polipóides hereditários associados a polipose do intestino delgado
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Esclarecimento de alterações descritas em exames de imagem (TC ou Ressonância)
Em que situações não deve ser realizado este exame?
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Ausência de consentimento informado
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Oclusão intestinal
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Estenoses do Intestino Delgado
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Estenoses esofágicas ou Divertículo de Zenker que podem impedir a progressão da cápsula
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Demência – doentes que não colaborem na deglutição da cápsula ou que possam danificar o equipamento de leitura
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Gastroparésia severa e perturbações da deglutição (nestes casos a cápsula pode ser colocada por via endoscópica a nível do duodeno)
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Doentes inoperáveis ou que recusem tratamento cirúrgico
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Gravidez
Se tiver sintomas que indiciem a existência de uma obstrução do intestino delgado, poderá ser realizada uma avaliação prévia com uma "cápsula de patência". Trata-se de um dispositivo com um tamanho semelhante ao de uma cápsula que poderá indicar a presença de estreitamentos nos quais a cápsula não passará; nestes casos, a cápsula de patência será dissolvida no intestino.
Quais os principais riscos da enteroscopia por videocápsula?
A Videocápsula é um procedimento seguro com poucos riscos associados.
A principal complicação desta técnica é a retenção da videocápsula no tubo digestivo, que pode condicionar quadros de oclusão intestinal com necessidade de remoção endoscópica ou cirúrgica.
Na maioria dos casos a cápsula é expulsa nas fezes algumas horas ou até dias após a sua deglutição (até 2 semanas). Em casos raros (cerca de 1% dos doentes submetidos a este método) a cápsula pode ficar retida no tubo digestivo. Este risco é ligeiramente superior em doentes com Doença de Cröhn.
Quando a retenção da cápsula além das 2 semanas não condiciona qualquer sintomatologia é lícito adotar uma atitude expectante, e esperar que a cápsula seja expelida naturalmente. Quando a retenção está associada a sinais e sintomas de oclusão intestinal a cápsula tem que ser removida. Dependendo da localização em que a cápsula ficar retida pode ser necessária uma intervenção cirúrgica para a sua remoção. Nos casos mais simples, a remoção pode ser feita com recurso à endoscopia digestiva alta, colonoscopia ou enteroscopia com balão.
